O mercado financeiro vem passando por transformações profundas nos últimos anos, impulsionado por uma combinação de fatores econômicos e comportamentais. Fatores como a volatilidade das taxas de juros, inflação persistente, instabilidade dos mercados globais e os crescentes avanços tecnológicos têm reformulado a forma como investidores — individuais e institucionais — lidam com seus recursos.
Esse movimento abriu espaço para os chamados ativos alternativos, uma classe que, apesar de menos conhecida pelo investidor pessoa física, vem ganhando protagonismo nas carteiras de grandes fundos, investidores qualificados e instituições. Ao mesmo tempo, os ativos tradicionais, — como títulos públicos, ações e CDBs — continuam sendo a base da maioria dos portfólios, sobretudo por sua familiaridade e liquidez.
Mas o que, basicamente, diferencia esses dois universos? Por que os ativos alternativos têm atraído cada vez mais atenção? E qual caminho pode ser mais vantajoso para o investidor que busca equilíbrio entre segurança e rentabilidade?
Neste artigo, a MGC Capital apresenta um panorama sobre as principais diferenças entre essas duas classes de ativos e como usá-los de forma estratégica para uma diversificação inteligente da carteira.
O que são ativos tradicionais?
Ativos tradicionais são as classes de investimento mais conhecidas e usadas no mercado financeiro. São opções consolidadas, reguladas e com amplo histórico de performance. Os ativos tradicionais mais comuns incluem:
Renda Fixa
São títulos de dívida emitidos por bancos, empresas ou pelo governo. Ao investir, você “empresta” dinheiro em troca de uma remuneração, que pode ser prefixada, atrelada à inflação ou à taxa Selic.
Exemplos:
- CDB (Certificado de Depósito Bancário) – emitido por bancos, com garantia do FGC até R$ 250 mil.
- Tesouro Direto – títulos públicos federais, considerados os mais seguros do país.
- LCI e LCA – isentas de IR para pessoas físicas, ligadas ao setor imobiliário ou agrícola.
- Debêntures – títulos emitidos por empresas (sem garantia do FGC).
Tais investimentos são indicados para investidores conservadores ou com objetivos de curto/médio prazo que buscam previsibilidade e segurança.
Renda variável
Inclui ativos cuja rentabilidade depende da oscilação de mercado. O investidor assume mais risco, mas pode ter retornos mais elevados.
Exemplos:
- Ações – pequenas “fatias” de empresas negociadas na bolsa.
- ETFs – fundos que replicam índices, como o Ibovespa.
- Fundos Imobiliários (FIIs) – investem em imóveis e distribuem rendimentos.
- BDRs – recibos de ações estrangeiras negociados na B3.
Indicados para investidores com perfil moderado a arrojado e objetivos de longo prazo, esses ativos são marcados por alta volatilidade, requerendo conhecimento, paciência e foco em diversificação para mitigar riscos.
Fundos de investimento tradicionais
São fundos que reúnem recursos de vários investidores e os aplicam em ativos variados (renda fixa, ações, câmbio etc.), conforme a política do fundo.
Tipos comuns:
- Fundos de renda fixa – aplicam majoritariamente em títulos públicos ou privados.
- Fundos multimercado – mesclam diferentes classes (renda fixa, ações, câmbio).
- Fundos de ações – investem ao menos 67% em ações.
- Fundos cambiais – ligados à variação do dólar ou outras moedas.
São indicados para quem busca praticidade na diversificação, delegando a gestão a profissionais. Entre as desvantagens, podem-se citar as taxas de administração/performance e os prazos de resgate mais longos. Também é importante avaliar histórico e a qualidade da gestão dos fundos.
Imóveis para renda
Compra de imóveis físicos com o objetivo de obter receita com aluguel ou valorização.
Exemplos:
- Apartamentos residenciais
- Salas comerciais
- Galpões logísticos
Esses tipos de investimento são indicados para quem busca estabilidade e patrimônio de longo prazo, com renda recorrente. Suas desvantagens incluem baixa liquidez, custos elevados (manutenção, impostos, vacância) e riscos de inadimplência.
O que são ativos alternativos?
Os ativos alternativos são investimentos que fogem do escopo tradicional. Eles não seguem as lógicas usuais de mercado ou têm menor correlação com ativos convencionais, o que os torna uma excelente ferramenta de diversificação. Além disso, oferecem potencial de retornos mais elevados e eventual proteção contra a volatilidade do mercado. Em contrapartida, são investimentos que, em geral, apresentam maior risco e complexidade.
Em ascensão no Brasil em decorrência da estabilidade institucional e da queda de juros nas últimas décadas, os investimentos alternativos são a classe de ativos que mais cresce no mundo atualmente.
Alguns exemplos são:
– Fundos estruturados (FIP, FIDC e FII)
Os fundos estruturados são veículos de investimento coletivo que aplicam em ativos menos tradicionais, muitas vezes fora do mercado financeiro padrão. Alguns dos mais conhecidos são:
- FIP (Fundos de Investimento em Participações):
Investem diretamente em empresas, geralmente de capital fechado, com objetivo de crescimento e posterior valorização. Muito usados no mercado de private equity e venture capital. - FIDC (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios):
Aplicam em direitos creditórios, ou seja, em recebíveis como duplicatas, cheques, boletos e parcelamentos. São úteis para empresas que querem antecipar receitas e para investidores interessados em retornos com menor correlação com o mercado tradicional. - FII (Fundos de Investimento Imobiliário):
Ainda que populares, são considerados alternativos por representarem frações de empreendimentos imobiliários com geração de renda passiva, via aluguel.
São indicados para investidores qualificados ou institucionais que buscam diversificação, exposição a setores específicos e potencial de retorno acima da média.
– Créditos estressados (ativos NPL)
“NPL” significa Non-Performing Loans, ou seja, créditos inadimplentes ou com baixo desempenho. Em outras palavras, são dívidas vencidas que ainda podem ser recuperadas por meio de negociação, cobrança judicial ou estratégias especializadas.
Entre os exemplos estão as carteiras de dívidas bancárias, de utilities, educacionais ou varejo, compradas com deságio por empresas especializadas, como a MGC Capital, e convertidas em oportunidades de rentabilização.
Esse tipo de investimento é indicado para quem busca altos retornos com maior tolerância a risco e que contam com equipes técnicas ou gestoras especializadas para avaliar e operar os ativos.
Pontos fortes:
- Alta rentabilidade potencial
- Baixa correlação com o mercado tradicional
- Boa performance em cenários econômicos desafiadores (ex: inadimplência alta)
Private equity e venture capital
São formas de investimento em empresas privadas, geralmente com foco em crescimento ou inovação.
- Private equity: investimentos em empresas já consolidadas, com o objetivo de melhorar sua eficiência, governança e lucratividade antes de uma venda ou abertura de capital.
- Venture capital: foco em startups e empresas em estágios iniciais, com alto potencial de crescimento e também maior risco.
Indicados para investidores qualificados, institucionais ou family offices, com horizonte de longo prazo e disposição para risco, esses investimentos exigem conhecimento e acompanhamento próximo.
Ambos oferecem altos retornos por meio da valorização da empresa investida, especialmente em casos de sucesso de mercado (ex: IPOs ou aquisições).
Criptoativos e blockchain
Trata-se de ativos digitais baseados em tecnologia blockchain. Vão além das criptomoedas como Bitcoin e Ethereum, incluindo tokens, NFTs, contratos inteligentes, entre outros.
As vantagens oferecidas incluem diversificação, proteção cambial, exposição à inovação tecnológica e novas economias descentralizadas.
São indicados para investidores arrojados, com perfil tecnológico, dispostos a assumir volatilidade e riscos regulatórios em troca de retorno expressivo.
Commodities e ativos reais
São investimentos em ativos físicos ou ligados à produção/extração de recursos naturais.
Exemplos:
- Ouro, prata e outros metais preciosos
- Petróleo e gás
- Café, soja, milho (commodities agrícolas)
- Madeira e terras raras
Indicados para: proteção contra inflação, crises e desvalorização da moeda. Podem compor carteiras robustas em tempos de incerteza.
Os ativos alternativos geralmente exigem maior análise técnica, têm menor liquidez e são mais comuns entre investidores qualificados ou institucionais. Em contrapartida, oferecem potencial de retorno acima da média e menor exposição a riscos sistêmicos do mercado.
Principais diferenças entre os investimentos alternativos e os tradicionais
A primeira diferença reside na disponibilidade e acessibilidade ao público em geral. Enquanto os investimentos tradicionais são negociados em plataformas convencionais, como corretoras ou na bolsa de valores, por exemplo, os alternativos são encontrados em fintechs e exchanges que se especializam em uma ou mais modalidades de ativos alternativos.
Como vimos, investimentos tradicionais contemplam ativos financeiros amplamente reconhecidos e acessíveis, como ações, títulos e fundos mútuos. Esses investimentos são regulamentados e negociados em mercados financeiros convencionais, oferecendo liquidez e transparência. Já os investimentos alternativos são geralmente menos líquidos e podem ser mais complexos, mas oferecem potencial para altos retornos e diversificação.
Vale a pena investir em ativos alternativos?
A participação dos investimentos alternativos no processo de diversificação de carteiras torna-se especialmente valiosa ao considerarmos que a correlação com ativos tradicionais costuma ser baixa. No entanto, a complexidade e baixa liquidez que caracterizam esses ativos exigem cuidados adicionais na análise de investimentos. Outro fator a ser levado em conta é a tendência dos fundos a serem mais concentrados e mais caros, o que exige uma seleção de gestores mais criteriosa.
Entre os ativos alternativos que mais se popularizaram no Brasil estão os fundos imobiliários (Flls), especialmente em razão dos incentivos tributários aos rendimentos e da facilidade de compra e venda de cotas na B3. Para se ter uma ideia, em 2009, não passava de 12 mil o número de pessoas e instituições investindo em FIIs. Em 2017 já eram 121 mil, 645 mil em 2019 e, atualmente, 2,2 milhões. O volume negociado em Bolsa passou de R$ 7,2 bilhões em 2016 para quase R$ 60 bilhões em 2023.