No vasto e intricado universo dos investimentos, poucos conceitos despertam tanta curiosidade – e, por vezes, desconfiança – quanto as operações estruturadas. Indicadas a investidores mais arrojados, que desejam lançar mão de uma estratégia mais robusta para compor suas operações, essas operações são baseadas na combinação de dois ou mais ativos financeiros.
Digamos que elas são uma spécie de “alquimia financeira”, que promete unir risco e retorno de maneiras que desafiam as estratégias tradicionais. São uma excelente alternativa, portanto, para quem quer arriscar mais em busca de ganhos mais elevados.
Mas quais, afinal, os mecanismos por trás desse termo que tanto se ouve no mundo financeiro, das rodas de investidores experientes às mesas das grandes instituições? Mais do que uma simples jogada de mercado, as operações estruturadas são um exercício de engenhosidade, um cálculo que busca equilibrar oportunidades e incertezas.
No artigo de hoje, desvendamos o funcionamento e comportamento dessas operações e como elas podem representar uma excelente alternativa para quem busca ir além do óbvio no mundo das finanças.
O que são operações estruturadas?
Voltadas a um perfil mais tolerante e propenso à volatilidade, as operações estruturadas são, em sua essência, estratégias de investimento que combinam diferentes instrumentos financeiros – como ações, títulos, derivativos (opções, futuros) e até produtos de renda fixa – para alcançar um resultado específico.
Não se trata de um ativo isolado, mas de uma “montagem” personalizada, desenhada para atender a objetivos que vão de proteção contra perdas a ganhos expressivos em cenários de alta volatilidade. Pense nelas como uma receita financeira: os ingredientes são conhecidos, mas o sabor final dependerá das proporções usadas e também do timing.
Uma operação estruturada pode ser usada, por exemplo, para diversificar uma carteira de investimentos, limitar o lucro de uma operação, maximizar os resultados ou até criar um hedge de ativos.
Diferente das aplicações em um fundo de ações ou um CDB, nas quais o retorno é mais previsível (e limitado), as operações estruturadas buscam explorar assimetrias do mercado. Um exemplo clássico é a combinação de uma compra de ações com a venda de opções de venda (puts) sobre o mesmo ativo – uma jogada que pode limitar perdas caso o preço caia, enquanto mantém o potencial de lucro se subir. É uma abordagem que exige precisão, mas oferece flexibilidade num mundo onde a previsibilidade é um luxo raro.
Como as operações estruturadas funcionam na prática?
O funcionamento das operações estruturadas depende de três pilares: objetivo, instrumentos e cenário. Primeiro, o investidor ou a instituição financeira define o que quer: proteger capital, alavancar ganhos ou gerar renda extra. Na sequência, escolhe os instrumentos que irão compor a estratégia, como derivativos (que amplificam ou hedgeiam movimentos) e ativos de base (ações, moedas, commodities). Por fim, analisam o cenário econômico – juros, inflação, tendências de mercado – para ajustar a estrutura.
O princípio é muito parecido com uma carteira diversificada, na qual diferentes tipos de investimentos são reunidos para tentar maximizar os ganhos e minimizar os riscos de um determinado investimento.
Imagine, por exemplo, um investidor que acredita na alta de uma ação da Petrobras, mas teme uma queda brusca. Ele pode comprar 100 ações (posição “long”) e, ao mesmo tempo, adquirir uma opção de venda (put) com preço de exercício menor. Se a ação sobe, ele lucra com a valorização e a opção expira sem uso. Se a ação cai, a put limita o prejuízo, garantindo um “piso” de segurança. Esse é o cerne das operações estruturadas: elas transformam o “ou” em “e”, oferecendo múltiplas saídas em um mercado imprevisível.
No Brasil, onde a Bolsa (B3) movimentou R$ 2,5 trilhões em 2023, segundo dados da própria instituição, essas estratégias ganham terreno entre investidores institucionais e pessoas físicas de alta renda. Mas não se engane: o que parece sofisticado exige conhecimento – ou, no mínimo, um bom assessomento.
Exemplos de operações estruturadas
1. Operações de arbitragem
A arbitragem ocorre quando um investidor aproveita diferenças de preços entre mercados ou ativos para obter lucro sem risco significativo. Algumas das operações estruturadas de arbitragem mais comuns incluem:
• Arbitragem de ações: compra e venda simultânea de ações em diferentes bolsas para lucrar com a variação de preços.
• Arbitragem de opções: explora discrepâncias entre os preços das opções e os ativos subjacentes.
• Arbitragem de renda fixa: ocorre quando há diferença nos preços de títulos de dívida com características semelhantes.
2. Operações estruturadas com derivativos
Os derivativos são instrumentos financeiros cujo valor deriva de um ativo subjacente, como ações, moedas ou commodities. Eles são amplamente usados para criar operações estruturadas com diferentes objetivos:
• Hedge (proteção): empresas e investidores utilizam contratos futuros, opções e swaps para proteger suas posições contra variações de preços. Exemplo: uma exportadora pode usar contratos futuros de câmbio para se proteger contra oscilações do dólar.
• Alavancagem: algumas operações permitem ao investidor obter ganhos expressivos sem a necessidade de grande capital inicial, mas isso também envolve maior risco.
• Estruturas de renda: combinações de opções podem ser usadas para criar estratégias de ganho recorrente, como a venda coberta de opções.
3. Operações Estruturadas de Crédito
Essas operações são voltadas para empresas e instituições que precisam levantar recursos ou otimizar sua estrutura de capital. Alguns exemplos incluem:
• FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios): são fundos que compram recebíveis de empresas, como duplicatas e boletos, permitindo antecipação de receita.
• CRIs e CRAs (Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio): São títulos lastreados em recebíveis desses setores e oferecem uma forma alternativa de captação de recursos.
• Debêntures incentivadas: Permitem às empresas captar dinheiro para projetos de infraestrutura, oferecendo isenção de imposto de renda para o investidor.
4. Certificados de Operações Estruturadas (COEs)
Os COEs são produtos financeiros que combinam renda fixa e renda variável, permitindo ao investidor diversificar seus investimentos de forma estruturada. Eles podem ser de dois tipos:
• COE de capital protegido: Garante que o investidor não perca o capital inicial, mesmo que o ativo subjacente desvalorize.
• COE de capital em risco: Oferece maior potencial de retorno, mas com possibilidade de perda parcial ou total do investimento.
Tipos de operações estruturadas
A depender do objetivo, as operações estruturadas podem lançar mão de diferentes estratégias. Entre as principais, se destacam:
- Borboleta
A estratégia borboleta é uma estrutura montada com opções que buscam obter ganhos com a baixa volatilidade do ativo. O investidor aposta que o preço do ativo ficará próximo de um determinado valor no vencimento.
• Como funciona? Consiste na compra de duas opções com preços de exercício diferentes e na venda de duas opções intermediárias, criando um formato gráfico semelhante às asas de uma borboleta.
• Objetivo: Lucro máximo se o ativo estiver próximo ao preço central da estratégia no vencimento.
• Risco: Limitado ao valor investido.
• Indicado para: Cenários de baixa volatilidade, quando o investidor espera pouca variação no preço do ativo.
2. Rolagem
A rolagem de opções é uma estratégia utilizada para ajustar posições, principalmente quando uma operação está próxima do vencimento e o investidor deseja estender o prazo ou minimizar prejuízos.
• Como funciona? Envolve fechar uma posição atual (vendendo ou recomprando a opção) e abrir uma nova posição com vencimento mais distante ou um novo preço de exercício.
• Objetivo: Adiar perdas ou potencializar ganhos mantendo a estratégia original.
• Risco: Pode aumentar a exposição ao risco se a rolagem não for bem planejada.
• Indicado para: Investidores que precisam de mais tempo para que a estratégia funcione conforme o esperado
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3. Trava de alta
A trava de alta é uma operação estruturada que permite ao investidor lucrar com a valorização do ativo subjacente, limitando tanto o lucro quanto a perda.
• Como funciona? O investidor compra uma opção de compra (call) com determinado preço de exercício e vende outra call com um preço de exercício maior, ambas com o mesmo vencimento.
• Objetivo: Capturar parte da valorização do ativo pagando um prêmio menor do que em uma compra simples de opções.
• Risco: Limitado ao valor investido na operação.
• Indicado para: Expectativa moderada de alta no ativo.
4. Trava de baixa
A trava de baixa é o oposto da trava de alta e busca lucrar com a desvalorização do ativo subjacente, também com risco e lucro limitados.
• Como funciona? O investidor compra uma opção de venda (put) com um determinado preço de exercício e vende outra put com um preço de exercício menor, ambas com o mesmo vencimento.
• Objetivo: Se o ativo cair de preço, a operação gera lucro.
• Risco: O valor investido na montagem da estrutura.
• Indicado para: Expectativa moderada de queda no ativo.
5. Lançamento coberto de opções
O lançamento coberto é uma estratégia conservadora em que o investidor vende opções de compra (calls) sobre um ativo que já possui em carteira, gerando renda adicional.
• Como funciona? O investidor detém ações e vende opções de compra sobre elas. Se o preço do ativo subir acima do preço de exercício, ele poderá ser obrigado a vender suas ações.
• Objetivo: Gerar renda extra enquanto mantém os ativos na carteira.
• Risco: Se o ativo subir muito, o investidor pode ser obrigado a vender suas ações a um preço abaixo do mercado.
• Indicado para: Investidores que querem reduzir a volatilidade da carteira e obter ganhos recorrentes com opções.
Os prós e os contras das operações estruturadas
Por que optar por operações estruturadas no lugar de um fundo tradicional? A resposta está na personalização. As operações estruturadas permitem adaptar o risco e o retorno ao perfil do investidor, algo que produtos prontos raramente conseguem. Quer lucrar com a alta do dólar sem se expor totalmente à volatilidade? Uma estrutura com futuros e opções pode resolver. Está em busca de renda passiva em ações sem precisar vender seu portfólio? A venda de calls cobertos é uma saída clássica.
Os números impressionam: um relatório da CVM (2023) mostra que o mercado de derivativos no Brasil cresceu 15% em volume no último ano, sinalizando o apetite por estratégias mais elaboradas. Além disso, em tempos de juros altos – como os 10,5% da Selic em março de 2025 –, operações estruturadas podem oferecer retornos que superam a renda fixa tradicional, especialmente em ativos correlacionados à inflação ou ao câmbio.
Mas há o outro lado da moeda. O risco é proporcional à complexidade: um erro de cálculo ou uma virada inesperada no mercado pode amplificar perdas. A alavancagem, comum nessas operações, é uma faca de dois gumes – potencializa ganhos, mas também prejuízos. Além disso, os custos operacionais (taxas de corretagem, margem de garantia) e a necessidade de monitoramento constante tornam esse tipo de investimento menos acessível ao pequeno investidor desavisado. É um jogo para quem entende as regras – ou confia em quem entende.
Quem deve considerar operações estruturadas?
Esse não é um território para iniciantes. Investidores com pouca experiência ou baixa tolerância a perdas podem se frustrar – ou pior, se afundar – ao tentar navegar esse mar de variáveis. Operações estruturadas são mais adequadas a:
• Investidores experientes: aqueles que já dominam ações, fundos e renda fixa e buscam o próximo nível.
• Perfis agressivos: quem aceita risco em troca de retornos potencialmente maiores.
• Gestores e instituições: bancos e fundos usam essas estratégias para proteger carteiras ou especular com precisão.
No Brasil, o crescimento de plataformas de educação financeira e assessores especializados tem aberto portas para pessoas físicas, mas o conselho é unânime: estude antes de mergulhar. Um curso básico de derivativos ou uma conversa com um planejador financeiro pode ser o divisor entre o sucesso e o tropeço.
O futuro das operações estruturadas
À medida que a tecnologia avança e os mercados se tornam mais interconectados, as operações estruturadas ganham protagonismo. Ferramentas como inteligência artificial e algoritmos já ajudam a modelar estratégias em tempo real, enquanto a tokenização de ativos (como criptomoedas) abre novas possibilidades. No Brasil, onde a volatilidade é quase uma marca registrada – vide as oscilações do real e da Bolsa nos últimos anos –, essas operações podem ser tanto um escudo quanto uma espada.
Mas o futuro também traz desafios. A regulação, liderada por órgãos como a CVM, tende a apertar para proteger investidores menos informados, o que pode limitar algumas estruturas mais ousadas. Ainda assim, o apetite por inovação financeira sugere que esse mercado só vai crescer – e quem souber usá-lo terá uma vantagem clara.
Devo apostar em operações estruturadas?
Operações estruturadas não são para todos – e talvez nem devam ser. Elas representam o que há de mais sofisticado e arriscado no universo dos investimentos, um terreno onde conhecimento e estratégia caminham de mãos dadas.
Antes de se aventurar, vale se perguntar: estou pronto para entender cada peça desse quebra-cabeça? Tenho tempo e disposição para monitorar o mercado? Se a resposta for sim, esse pode ser o caminho para transformar incertezas em oportunidades. Se não, o básico bem feito – um Tesouro Direto ou um ETF – ainda é o que mais funciona.